A Roda Do Ano

11/01/2023 23:35

Roda do Ano

 

A Roda do Ano é um conjunto de festivais comemorados ao longo do ano por bruxos e pagãos, que remetem a festivais antigos, festejados por antigas culturas, geralmente celtas e germânicas.

O que temos hoje, é uma construção moderna de 8 sabás, cada um com características próprias, tendo relação com os ciclos da natureza (solstícios e equinócios) e festejos que originariamente eram em relação aos ciclos dos plantios, de qualquer forma, em uma última análise, festas em relação ao ciclo do Sol durante o ano.

Além disso, cada sabá, nesse molde moderno, faz relação também com a visão do ciclo divino entre o Deus e a Deusa ao longo do ano.

Muitos bruxos e bruxas, tem sua iniciação, ou no caso de bruxos e bruxas solitários, sua auto iniciação, depois de percorrer pelo menos uma roda do ano inteira.

As características que apresento a seguir, são as tradicionais de cada festejo, porém, cada clã, ou cada indivíduo solitário, depois de celebrar várias rodas, acaba individualizando a forma de celebrar cada sabá, de acordo com aquilo que fala mais forte a natureza do sagrado que desenvolve pessoalmente.

Para o bruxo/bruxa, ao celebrar as rodas, vários insights, conecções e habilidades são desenvolvidas, formando uma base para o desenvolvimento do caminho espiritual.

Muito mais pode-se falar sobre os sabás, mas aqui me atentarei em um breve resumo. As festas podem (e devem) ser celebradas cultuando Deuses, culturas antigas, seres e espíritos, a partir do momento que se compreende o valor simbólico de cada festa, dentro do processo pessoal e coletivo do que representam esses momentos da natureza, enriquecendo não só a celebração, quanto os processos que se desenvolvem nestes festejos e portanto, o aprendizado que aí há.

As datas relacionadas a cada sabá, geralmente tem origem mitológica, mas muitos consideram que, por representar mudanças da natureza, podem ser comemoradas dentro de um pequeno período, não sendo exatamente pontuais.

Mas vamos lá:

 

Samhaim

Este, tradicionalmente é considerado o início do ano pagão. Ocorre no hemisfério Norte em 31/10 e no hemisfério Sul em 01/05.

É a festa dos mortos, de honrar os ancestrais, onde se diz que o véu que divide as realidades se enfraquece.

Dentro da história do Deus e da Deusa, é o período onde o Deus morre, mas permanece vivo como filho, no ventre da Deusa, que adquiri dois aspectos: mãe grávida e anciã velando o Deus morto.

É caracterizado por sacrifícios, reflexão e análise do movimento interno e externo. Uma prática comum é se colocar velas na janela para os espíritos bons se encaminhem.

São oferecidos alimentos aos mortos, jogos adivinhatórios, magias e máscaras são usadas para afastar maus espíritos.

Marca a fase de preparação para o inverno que se aproxima, e onde os animais e plantas mais fracos não resistem e serão sacrificados.

Seus símbolos clássicos são abóboras modeladas com expressões humanas, que servem para espantar os maus espíritos. Nos cultos antigos, usavam-se nabos para isso. Outros símbolos são crânios, ossos, ervas secas, confecção de vassouras, corda da bruxa, queima de pedidos.

Cores: preto, laranja, roxo.

Ervas: alecrim, sálvia, valeriana, mirra, chás

Pedras: obsidiana, turmalina negra, ônix.

Origem: culto celta universal.

Atividades: fazer lanternas de abóbora, altar dos antepassados com maças e velas, fazer comidas e ofertar aos mais velhos, meditar sobre morte e seus significados, contar histórias da família para as crianças, abrir oráculos, fazer instrumentos, corda da bruxa.

Lanterna de abóbora

 

Yule

É o festejo do meio do inverno, ou do solstício de inverno, ou seja, a noite mais longa do ano. A partir daí, o dia começará a crescer cada vez mais, de forma lenta. É o auge da escuridão.

É comemorado no hemisfério Norte em 21/12 e no hemisfério Sul em 21/06.

No caminho das divindades, representa quando a Deusa dá á luz a criança divina, ao novo Deus. Para os povos antigos (anglo saxões) era chamado de a noite das mães. E alguns ainda comemoravam essa celebração como o Ano Novo.

Símbolos clássicos: chamas, pinheiro, criança, mães. O pinheiro por exemplo, simboliza aquela árvore que em pleno inverno, mantém suas folhas verdes.

Cores: vermelho, verde, dourado, branco

Ervas: visco, cedro, pinheiro

Pedras: quartzo verde, granada, rubi, pirita

Origem: anglo saxão, nórdicos, germânicos. Foi uma das primeiras festas sazonais, e faz eco com o que comemoramos hoje como Natal, ou seja, a cultura cristã acabou assimilando elementos desse sabá antigo para compor o Natal moderno.

Atividades: montar a árvore (pinheiro), fazer e trocar presentes, fazer receitas tradicionais de família, fazer a tora de Yule, cozinhar bolos, pães de frutas e sopas.

Tora de Yule

 

Imbolc ou Candlemas

O próximo festejo comemora a assunção da Deusa Virgem. Representa a fertilidade contida, relacionadas aos grãos. Comemorada no hemisfério Norte em 02/02 e no Sul em 01/08. É a promessa da luz.

Período de iniciações, autodedicações e purificações. Período de lactação dos animais  domesticados.

Tradicionalmente, é a festa das tochas, Dia de Brigith, festa da donzela, e mais modernamente dia de Maria, inclusive a festa da Candelária, de natureza cristã, traz eco com esse sabá.

Símbolos: chamas, cruz de Brigith, trigo, imagens trivias, velas

Cores: vermelho, laranja, branco

Ervas: sálvia branca, bálsamo, verbena

Pedras: quartzo branco, pérola

Origem: Irlanda (Brigith), também Galia, Escócia, Inglaterra.

Atividades: fogueiras e velas, cruz de Bright, boneca de Bright, consagrar velas e presentear, queimar amuletos, pedidos, ervas (uso do caldeirão).

Cruz de Bright

 

Ostara

É a celebração da Primavera, do equinócio, ou seja, quando o dia e a noite tem a mesma duração. No hemisfério Norte é comemorado no dia 21/03 e no hemisfério Sul no dia 22/09. A partir daí, o dia crescerá cada vez mais lentamente.

No ciclo divino, representa a exuberância da Virgem e da natureza, a “paquera” do Deus e da Deusa. É o momento de plantar encantamentos e cuidar de jardins.

Símbolos: ovos coloridos, lebres, flores

Cores: vermelho, verde, amarelo, branco

Ervas: jasmim, lápis lazúli, perola, citrino

Origem: a origem de Ostara é bastante solta. Esse festejo guarda relação com o que comemoramos modernamente com a Páscoa (Easter em inglês). No calendário anglo saxão pré-cristão era relativo ao mês com o mesmo nome, mas possui muitos elementos mediterrâneos, como por exemplo ao mito romano de Mithras.

Atividades: pintar ovos, sementes e mudas, receitas de chocolate, enfeitar a casa com flores, fazer guirlandas de flores.

Ovos de Ostara

 

Beltane

Traduzido como fogo bom, fogo brilhante, fogo de Bel (Belinos), Calendas de Maio, é a celebração da fertilidade, do desejo, da paixão, da consumação, do prazer, da virilidade.

Comemorada no hemisfério Norte em 30/04 e no hemisfério Sul em 01/11.

Significa a união pelo grande rito do Deus e da Deusa e a fecundação. Magias com caldeirão são bem-vindas. Se popularizou no grande público, pela obra As Brumas de Avalon, que conta a lenda do rei Arthur, mas de forma bastante romantizada.  

Símbolos: Maypole, ou Mastro de Maio, flores, casais, pombos

Cores: multicores

Ervas: flores, rosas, narciso, manjericão, baunilha, ylang ylang

Pedras: quartzo rosa, rubi, esmeralda

Origem: Irlanda, Escócia ocidental (século 9).

Atividades: fogueiras e velas coloridas, mastro de maio, fazer temperos e presentear (ervas aromáticas), fazer chifres coloridos, fazer máscaras de  folhas, fazer guirlandas de flores com frutas, fazer pratos frios coloridos.

Mastro de Maio ou Maypole

 

Litha

É a celebração da Luz do Verão, ou meio do Verão, comemorado no solstício do verão, onde temos o maior dia do ano e a partir daí a noite começará a crescer. É o auge da luz.

Comemorado no hemisfério Norte em 21/06 e no Sul em 21/12.

Dentro do ciclo divino, é quando o Deus e a Deus fertilizam a natureza, o auge da fertilidade. Todos as magias são fortalecidas, especialmente para fertilidade, purificação, saúde e amor.

Símbolos: pular fogueiras, fogo, flores fadas, roda solar

Cores: amarelo, laranja, azul, verde

Ervas: flores, sálvia, alecrim, abeto, tomilho

Pedras: rubi, âmbar, citrino

Origem: germânica, escandinava, gaulesa, anglo saxã. Faz relação as festas de São João.

Atividades: fogueiras e velas, temperos com ervas e presentear, guirlandas de trigo, milho e flores, pratos frios e coloridos (saladas, frutas, sucos), pintar o rosto (com símbolos solares), ver o Sol nascer.

Guirlanda de trigo e flores

 

Lammas ou Lughnash

Conhecida como o festival dos pães, da primeira colheita e festa de agosto. Associada ao Deus Lugh e a lenda de Jonh Barney Corn (espírito da cevada). É a promessa da escuridão.

Comemorada no hemisfério Norte em 01/08 e no hemisfério Sul em 02/02.

No ciclo divino, o Deus começa enfraquecer e a Deusa está grávida.

Símbolos: cornucópia com comida, alimentos, pães, trigo

Cores: marrom, laranja, vermelho, amarelo

Ervas: trevos, cevada, centeio, folhas

Pedras: citrino, ágata, seixos de rio

Origem: Ilha de Man, País de Gales

Atividades: fazer pães, guirlandas de trigo e milho e colocar na porta, bonecas de trigo e grãos, garrafa da bruxa, cozinhar lentilha e feijão, secar ervas.

Cornucópia com alimentos

 

Mabon

Esse sabá é comemorado no equinócio de outono (luz do outono), quando o dia e a noite tem a mesma duração. A partir daí, a noite crescerá cada vez mais até o próximo solstício de inverno.

É comemorado no hemisfério Norte no dia 21/09 e no hemisfério Sul no dia 20/03. No ciclo divino, o Deus se prepara para morrer.

No ciclo agrícola, é a segunda colheita, ou conclusão de colheita, onde a natureza começa a retroceder.

Símbolos: cornucópia, folhas secas, milho, frutas, frutos, cascas.

Cores: marrom, verde, branco

Ervas: camomila, maça, folhas

Pedras: topázio, perídoto, âmbar

Origem: relacionada ao Deus romano Apolo e também a Deusa gaulesa Modron. Mabon também é chamado: Mabon ap Modron (mãe e filho divinos).

Atividades: fazer pães, cornucópias, guirlanda de trigo, folhas secas e flores, bonecas de trigo, garrafa de semente, secar ervas e guardar para tempero, colocar abóboras pela casa (não como lanterna).

Garrafas de sementes

 

Cada bruxo ou bruxa solitária, ou ainda cada grupo ou clã, roda a roda do ano de maneira própria. Alguns levam em consideração ser fiel as estações do ano, então rodam a roda do sul, aqui no hemisfério Sul.

Temos ainda outras formas de rodar, por exemplo, temos rodas reconstrucionistas, ou seja, rodam festejos relacionados a algum povo e época específico, por exemplo celtas, greco-romano.

Temos rodas mistas, onde quem está no Sul, roda os sabás de equinócio e solstício de acordo com o sul e os demais sabás como o Norte, seguindo o movimento mitológico.

Outros rodam de forma híbrida, considerando os eixos: Samhain – Beltane, Yule – Litha, Imbolc – Lammas, Ostara – Mabon. Assim, a cada celebração, se comemora o eixo, os dois polos.

Podemos também, celebrar de forma geográfica, com perspectiva da geografia local, por exemplo, no norte do Brasil temos seca, simbolizando a morte e seu sabá de referência. Inclusive, pode-se substituir os elementos típicos, que são característicos da Europa, por elementos típicos da região que se está, guardando a relação simbólica deles.

Ainda há os que celebram de forma eclética, ou seja, universalista, agregando Deuses de panteões diversos em cada sabá.

Por fim pode-se rodar de forma livre, atribuindo ao simbolismo de cada sabá, como associação aos ciclos da natureza, por exemplo, mas cultuando em cada sabá um ou mais Deuses de culturas diversas, que dão o enfoque cultural e de características de cada festa, perdendo a associação clássica de cada sabá.

As egrégoras trabalhadas ao se praticar e celebrar a roda do ano, seja de que forma for, são pelo menos:

  • Ciclos da vida e ciclos sazonais.
  • Ciclos pessoais, transformações, mortes, iniciações.
  • Mitos: conecção com o passado, com ancestrais e com Deuses.
  • Devocionais: aproximação com as divindades e desenvolvimento do sagrado pessoal.

 

Concluindo, para os pagãos e bruxos, celebrar a roda do ano é parte fundamental do desenvolvimento espiritual dessa senda. Apenas celebrando pode-se ter acesso aos saberes e mistérios que esses ritos guardam, além disso, a celebração continua, permite que cada um ache, junto o seu próprio sagrado, a forma mais pessoal de celebração, que faça mais sentido ao íntimo de cada um.

 

(Texto baseado em várias palestras ministradas por Lua Serena e Elfo Lunar, através dos canais de Youtube  de ambos autores, e da escola Instituto Mãe Terra) www.youtube.com/@InstitutoMaeTerra , www.youtube.com/@LuaSerena

 

 

                    Natália Verdial