Hécate

05/01/2021 22:34

Hécate

 

 

Hécate (lê-se Ecátê e significa “A que opera de longe”) é tida como uma Deusa grega que, embora pouco citada na mitologia mais conhecida, tinha um lugar muito especial para as pessoas na Grécia, principalmente em Lagina e em Trácia. Seu culto era amplo e generalizado, mesmo antes da civilização grega.

Foi cultuada também pelos romanos através de suas festas próprias que dedicavam a ela todo dia 29 de cada mês. Os gregos guardavam dois dias para consagrar Hécate, dia 13/08 e dia 30/11 (em nosso calendário). Era homenageada à noite, com procissões, tochas e oferendas ( ceias de Hécate).

Existia um grande componente místico e mágico nos ritos de Hécate, porém não exclusivamente. Seu culto não era elitista, haviam altares nas casas, onde eram feitas oferendas,  libações e pedidos. Outros altares eram montados em encruzilhadas, principalmente de três caminhos, onde costumava-se deixar comida para os pobres.

A origem da deusa porém parece ser mais antiga, como divindade egípcia, representada por uma mulher com cabeça de rã ( simbolizando a senhora dos pântanos, dos lagos, do mundo psíquico e do parto), sendo uma Deusa primordial. Além disso, Hécate já era cultuada por todo mediterrâneo.

Mais tarde, em Trácia, tornou-se uma grande Deusa, mantendo as características anteriores, somando mais símbolos e perdendo a cabeça de rã. Na Grécia ela se torna uma Deusa tripla, representada por três figuras de mulher em uma só. Essa Deusa tem relação com as fases da lua e com as fases da vida feminina: virgem ( lua crescente), mãe ( lua cheia) e anciã ( lua minguante).

Hoje, Hécate é frequentemente representada com uma lua ornando sua testa, com uma capa negra da noite, como uma velha ou como a Deusa Tripla. Seus símbolos são tochas, uma chave ou caldeirão e seus animais  são principalmente o cão, o lobo, a serpente e a coruja.

Alguns mitos dizem que ela era filha dos titãs Tártaros e Noite, outras versões dizem ser Perseu e Astréa, ou mesmo de Zeus e Hera. Como uma titânida, era cultuada até mesmo por Zeus, o deus dos Deuses, tendo ele determinado que cada vez que alguém deitasse uma oferenda na terra sem ofertá-la a nenhum deus específico, essa oferenda seria de Hécate.

O prestígio da Deusa com Zeus  vinha do mito da guerra entre titãs e deuses. Hécate se posicionou a favor dos deuses e foi de grande valia, então Zeus para recompensá-la deu uma devida parte em todos os domínios da terra, céu e submundo, onde tornou sua morada.

No importante mito de Perséfone, ela aparece de forma secundária, porém mostra sua natureza de ser aquela que atravessa os mundos. A mitologia nos conta que Perséfone, amada filha de Deméter (senhora dos cereais e dos alimentos) foi raptada por Hades ( senhor do submundo) com consentimento de Zeus. Perséfone então fica secretamente cativa. Deméter em seu desespero, priva os seres vivos de alimento, pois nada nasce da terra. Hécate aparece então auxiliando Deméter e revela o paradeiro de sua filha.

Zeus, percebendo a esterilidade da terra, permite que Perséfone volte para sua mãe, desde que não tenha comido nenhum alimento do submundo, mas ela comeu a romã ( símbolo da travessia do espírito). Assim, ela passa então a ficar duas partes do ano com a mãe e duas partes do ano com Hades, explicando as estações.

Hécate é portanto, a senhora que percorre os três reinos: céu, terra e submundo, tendo a chave dos três. É também a senhora da encruzilhada, principalmente a de três caminhos, representando o passado, o presente e o futuro. Ela conduz as almas, tanto vivas quanto mortas pelos caminhos, por isso porta tochas. Está associada a noite, as fases da lua, ao parto, ao mundo visível e invisível. É uma Deusa viajante,  e sem consorte, independente e sábia.

A Deusa Hécate hoje está viva, pois é considerada a Deusa da bruxaria moderna, porém é uma das figuras mais incompreendidas e negativadas pelos incautos. Seu significado relacionado ao poder feminino foi reprimido por séculos de patriarcado que se estabeleceu pelo mundo. Sua sabedoria virou feitiçaria traiçoeira, de anciã virou velha assombrosa, a conexão com os ciclos da natureza foram oprimidos, seus animais sagrados foram transformados em seres demoníacos e a mulher se transformou em submissão.

No entanto, ainda assim o culto a Deusa Hécate sobreviveu em pequenos, mais diversos grupos pagãos, que enxergam nela a beleza da trindade feminina com seus mistérios, sabedoria e poder.

 

Natália Verdial