Sufismo

19/04/2015 15:05

 

Sufismo

 

Sufismo
“Um só minuto pensando sobre Deus vale mais que mil anos de orações.”
Sufismo é a sabedoria mística e contemplativa do islã (visão interior da vida e do ser). Sua filosofia se baseia no autoconhecimento e contato com o divino através de praticas que não  seguem padrões fixos e onde Deus é amoroso.  Busca eliminar os véus que ocultam a experiência do real indo ao encontro a dimensão da perfeição, fim último de qualquer caminho místico verdadeiro, mesmo estando inserido dentro do contexto do mundo islâmico.
 As praticas dos sufis se inspiram no profeta Maomé, que refugiava-se em cavernas nas montanhas de Meca onde se dedicava a meditação e ao jejum.  Portanto remontam aos indivíduos que surgiram depois da morte de Maomé.
O termo sufi deriva do árabe ”lã”, como referencia aos homens simples que se vestiam com roupas de lã e se dedicavam aos  hábitos ascéticos do sufismo primitivo.
O principal santuário fica no Paquistão ( um dos países mais conservadores do mundo,) chama-se Mausoléu de Abdullah ShaGhazi, um santo mulçumano do século 8. Nesse mausoléu, ocorre consumo intenso de haxixe enquanto se entoam hinos ao som de tambores e distribui-se  flores nos túmulos.

 

 

O sufismo é dividido em ordens e é encontrado em muitos países, islâmicos ou não. Cada ordem segue os ensinamentos de um santo fundador. Algumas são maiores que outras e algumas acabam com a passagem do tempo.
A história  dessa filosofia religiosa tem três momentos: clássico, medieval e moderno. O apogeu dessa religião foi entre 1550 e 1800.
 Em meio as diversas formas de perseguições sofridas, um dos nomes mais importantes é o do mártir persa  Husaynibn Masur al-Hallaj, que foi crucificado em 922 após declarar a frase “ eu sou a verdade “.  O sufismo foi portanto, muitas vezes atacado dentro do próprio mundo islâmico como sendo heresia, pois era encarado como uma ameaça ao monoteísmo islâmico, ainda que o alcorão também sirva de inspiração.
Vários códigos foram criados e através de poesias complexas, frases que possam ser entendidas como contrárias a existência de um Deus único foram disfarçadas.
Apesar de pertencer ao universo islâmico, há várias diferenças entre o sufismo e o islamismo ortodoxo .  A mais evidente é a meditação, a música e a dança, usados para alcançar um estado mental elevado que leva ao caminho de Deus (  para os islâmicos, as cordas vocais e os instrumentos musicais estão ligados ao demônio).
Outra diferença fundamental é a chamada “Noite da Viagem”, ou miraj, quando o profeta Maomé chega a presença de Deus. Para o islamismo, ele foi de corpo e alma, para os sufis, foi uma ascensão espiritual interna.
Dentro de grupos sufis, é comum encontrar indivíduos de diversas religiões e tradições, pois a filosofia  sufista tem um caráter muito mais universal do que o islã.
Algumas características do sufismo se assemelha a outras religiões, por exemplo  a presença do culto aos santos, como no catolicismo, com a diferença de que tais santos não são canonizados oficialmente, mas aclamados. Dentro desse panorama, há ainda outras coincidências como o santo Ibrahim, que nasceu príncipe e renunciou ao poder após a iluminação divina, assim como Sidarta Gautama, o Buda.
Outras características ocorreram no começo do sufismo, quando os adeptos viviam como mendigos buscando a experiência mística, o que os tornavam muito parecidos com os primeiros monges cristãos e com os faquires hindus. O uso de haxixe e  do café (ahwa), também característicos, atrairam muitas condenações.
O mais interessante dos sufistas, talvez sejam as práticas, pois suas meditações são realizadas em grupo, ao som de poesias e batidas rítmicas, que os levam a um estado de transe (mesma técnica utilizadas pelos adeptos do vodu, de origem africana). Um dos mais tradicionais tipos de música sufista é feita pelos dervixer, famosos por suas músicas rápidas e danças agitadas.
Nesses rituais, canta-se o “dhikr” ( lembrança ou invocação), que é o ato de repetir inúmeras vezes os textos sacros do Alcorão e o nome de Deus. A ordem mais famosa, Mevlevi pratica o “sema”, que é uma dança vertiginosa em que os fiéis fazem giros  de 360 graus ao redor do próprio corpo por vários minutos sob músicas e hinos do Alcorão.
Há ordens ainda em que a comunhão com Deus leva ao extremismo, como mastigar vidro, engolir prego, beber inseticida, agarrar fios elétricos, enfiar espetos na língua e bochechas. No entanto os cultos extremistas são a minoria.
As características tão próprias dessa filosofia religiosa, principalmente  pela crença de que a busca está no amago, a  convivência pacífica com demais crenças é totalmente aceitável e o caminho para Deus se dá através da perda coletiva dos sentidos, tudo dentro do contexto islâmico, fazem do sufismo uma fé singular e única.

  

Natália Verdial