Umbanda Cristã
Umbanda Cristã
“Eu sou um filho de fé, meus Orixás me dão a luz. Meu coração tem axé...e se for preciso caminhar no escuro, eu também tenho quem me conduz.”
A umbanda é uma religião originalmente brasileira, feita do sincretismo da religião católica, religiões africanas e das religiões indígenas como os Tupinambás.
Na época da chegada dos portugueses (séc. XVI) e depois com a vinda dos negros trazidos da África, como escravos, houve uma imposição por parte dos colonizadores para que negros e índios se tornassem cristãos, em uma tentativa clara em desfigurar as religiões ditas pagãs ancestrais. Porém com o passar dos séculos, as três culturas assimilaram-se, ainda que o indígena propriamente dito, participa da religião na forma de espíritos guias e não como fieis encarnados.
E meados da década de 1860, chega ao Brasil o Kardecismo, religião que se pauta em fenômeno mediúnico, de onde houve o nascimento oficial da Umbanda: em uma sessão espírita, o médium Zélio Fernandino de Moraes, na época com 17 anos, incorporou o Caboclo das Sete Encruzilhadas. Outros espíritos de negros escravos e índios se manifestaram e foram repelidos pelo kardecismo, mas o Caboclo anunciou a nova religião.
No dia 16 de novembro, na casa de Zélio, começou então o novo culto, ainda que houvesse atividades religiosas semelhantes antes desse ponto inicial.
Há várias ramificações na Umbanda. Exemplos das mais conhecidas são: Umbanda de Almas e Angola, Umbanda Branca, Umbanda de Caboclo, Umbanda Omolocô, Umbanda de Preto-Velho, Umbanda Tradicional, além da Umbanda Trançada ou Umbandomblé (ora culto de Umbanda, ora culto de Candomblé).
As crenças da Umbanda se baseiam no deus maior, ou Zâmbi, nos Orixás (divindades) e nos guias espirituais, representados pelos caboclos, pretos-velhos, erês, exus, etc. Em relação aos Orixás, eles são sincretizados como santos católicos, onde Jesus é sincretizado como o Orixá maior, o Oxalá, portanto, a Umbanda é cristã. Também há a crença em anjo da guarda, na reencarnação, na lei de ação e reação e principalmente na mediunidade de incorporação.
Um conceito interessante da Umbanda é o entendimento da esquerda, representada pelo Orixá Exu e os espíritos guias de esquerda Exus e Pombogiras. De forma simplificada, pode-se entendê-los como agentes de luz nas trevas. São espíritos guias que agem em todo o universo espiritual das trevas, buscando ajudar os humanos em suas contendas de vida.
O dirigente espiritual de cada casa é chamado Babalaô, seu assistente direto é o pai/mãe pequeno. O Ogã é o responsável pelo canto e batuque, necessário para manter a sustentação da vibração durante os rituais. Cambono é o médium auxiliar de cada um dos médiuns de incorporação. Os médiuns de incorporação que atendem a população são sacerdotes formados por anos de estudo e treinamento na arte da incorporação e recebem espíritos guias definidos (chefes de cabeça). A corrente é formada por médiuns em treinamento, que ficam em volta, no trabalho, e cantam os pontos (músicas) junto com o Ogã.
O Congá é o altar, onde ficam as imagens dos santos, dos Orixás, de Jesus, flores e oferendas. A Umbanda cristã geralmente não faz sacrifício animal. Os trabalhos ritualísticos e atendimentos são chamados Giras. As giras seguem mais ou menos a estrutura: firmeza para Exu, abertura, defumação, preces e saudações, atendimentos ao público, encerramento.
Nos atendimentos, o sacerdote recebe por incorporação seu guia, um caboclo por exemplo, e sob sua influência, conforta, aconselha e instrui a pessoa que vai até ali procurando por ajuda.
Uma característica típica da umbanda são os colares de contas, chamados guias, que de acordo com a cor, são correspondentes a cada Orixá e são utilizados como proteção do fiel.
A Umbanda é uma religião bastante complexa, que necessita de vários anos de estudo para ser integralmente compreendida, em seus cantos e encantos, caridade e serviço. Não tem um culto na forma de sabatina como muitas religiões, mas rituais onde o público interage com cada médium incorporado e ali debatem os problemas do consulente, que escuta palavras de sabedoria e incentivo.
Natália Verdial