Umbanda - Parte 2

08/08/2021 14:54

Umbanda parte 2

 

A Umbanda representa antes de tudo, um espaço para os excluídos, inclusive na espiritualidade, já que seus guias são principalmente os negros e índios do passado, que foram renegados em sua sabedoria dentro do próprio espiritismo kardecista.

Esses espíritos, ao tomar contato com suas histórias, tiveram a capacidade de perdão ao povo que o dizimou e escravizou e agora voltam para prestar assistência aos descendentes daqueles que outrora foram seus algozes. A esse perdão, relacionaram ao perdão de Cristo.

Os sincretismos relacionados a Umbanda são vários, mas os principais são:

  • Religiões africanas (simbologia, natureza como sagrada)
  • Kardecismo (naturalização e desenvolvimento da mediunidade)
  • Cristianismo (perdão, moral)
  • Tradições ameríndias (presença através de espelho subjetivo da mediunidade, rituais com intermediação do sobrenatural, natureza sagrada).

Em relação aos negros, a origem das pessoas que vieram para o Brasil dentro do movimento da escravização, temos os Bantos (Sul e Sudeste da África, principalmente Congo e Angola) e os sudaneses (Norte e nordeste, representados pelos Nagôs principalmente).

Os negros que chegaram em um primeiro momento foram os bantos e trouxeram o conceito de Deus maior como Zambi. No final do movimento da escravatura vieram os sudaneses e trouxeram os conceitos de Orixás.

Dentro dos quilombos houve um momento de fusão dos três cultos: africano, indígena e cristão. Perto de 1900 começa a história da Umbanda.

Em relação aos índios, temos dentro da Umbanda principalmente a participação dos Tupinambás, ainda que o termo remonte a uma coletividade indígena dominante no Brasil na época. Temos dentro desse contexto que Tupinambá se refira mais aos povos do litoral, mas temos vários povos em subdivisões como os Tamoios, os Tupiniquins, os Caetês, etc.

Os fundamentos gerais da Umbanda giram dentro de:

  • Zambi como Deus maior, seria compatível ao Tao, ou ao Cosmo, antes da diferenciação em gêneros ou polos,
  • Cristandade,
  • Orixás e Exus como Deuses ou emanações, que levam a sincretismo com Santos, depois a associações em legiões e finalmente a guias
  • Alma imortal e que reencarna,
  • Lei kármica da ação e reação entre o que fazemos ao externo e o que ele nos retorna como realidade,
  • Livre arbítrio frente a cada situação que a realidade nos retorna (criada por nós mesmos),
  • Mediunidade como intermediador.

 

A questão dos Orixás, temos que em uma primeira análise, são emanações de Deus Zambi, representados por forças da natureza, ou ainda símbolos maiores de Deus, ou ainda simplesmente deuses.

Através de sincretismo, cada Orixá se relaciona a algum santo, cuja simbologia pode ser associada e representa um símbolo menor daquela força espiritual. Dentro da espiritualidade, desde os Orixás até os guias que de fato trabalham na casa, há linhas espirituais ou falanges que fazem essa corrente associativa simbólica.

O poder do Deus é um reflexo da fé direcionada a ele, portanto, espelho em um símbolo com conteúdo altamente espiritual, produzindo ação no material.

Essa manifestação material ocorre inclusive através das falanges de espíritos que se ligam ao símbolo divino maior e também aos pontos de força do planeta.

O Exu apresenta um aspecto divino, como elemento constitutivo da realidade e com isso apresenta também suas correntes. Em uma casa de Umbanda, um guia exu reflete a linha da divindade Exu e são executores de tarefas, dentro da lei de causa e consequência, além de serem guardiões de pontos de força.

A linguagem simbólica dentro do Terreiro se dá de várias formas como: pontos riscados, imagens, elementos dos Orixás, Congá, defumação, pontos cantados, banhos de defesa, cruzamento de velas, etc.

Um símbolo é algo que tem um aspecto objetivo e um aspecto subjetivo, como uma imagem dupla, que é compreendida pelo racional e leva uma mensagem maior ao inconsciente, ou ao espiritual pessoal, ou ao espiritual maior.

Dentro do Terreio, temos os personagens: Coroados (os Sacerdotes que incorporam), os Ogans (que cantam e tocam), os Cambonos (assistem aos coroados), os médiuns de passe, a corrente de médiuns que dá suporte energético aos coroados, o Babalaõ que dirige tudo e a mãe pequena.

Em relação aos guias, temos os caboclos (geralmente índios), os peto-velhos, crianças, guias-exu, etc.

 

Nas giras de esquerda os espíritos sofredores tem um momento de possibilidade de resgate, quando incorporam e tomam consciência de seu estado. Já os consulentes tratam com os guias questões práticas de suas vidas como dinheiro e sexo.

 

Coração do Terreiro

 

Coroados: humanos com qualidades e defeitos, mas com disciplina e perseverança para manter o foco no desenvolvimento mediúnico. Aprendem a mediunidade e parâmetros da realidade espiritual (pela proximidade com os guias que incorporam), além de desenvolver o sentimento de caridade (doando seu aparelho corporal para incorporar) e dedicação (através da administração da casa).

 

Babalaô: figura simbólica social do Terreiro, junto a mãe pequena. Tem conhecimento da simbologia, mérito, experiência e sabedoria administrativa e mediúnica. Aprende administrar correntes humanas de forma justa e leal a todos. Aprende também como funcionam de forma diferentes as hierarquias: humana: “clube espiritual”, espiritual “falanges”.

 

Guias: espíritos desencarnados que se estabeleceram em um nível psíquico onde causa e consequência diz mais sobre sua própria consciência do que a fatos materiais de fato. Aperfeiçoam a lucidez espiritual e reformularam suas almas o suficiente para fazer caridade aos descendente daqueles que os dizimaram em vida. Guiam os encarnados no fio da navalha entre a influência e o respeito absoluto ao livre arbítrio.

Através de suas palavras, dão conforto, solução via espiritual se possível, ou explicação do porquê não, além de aconselhamento prático/simbólico.

 

O local onde ficam os guias como caboclos é como uma colônia espiritual, onde se seguem regras para manter sua estrutura de realidade, aparentemente estática. Não querem reencarnar a princípio, não querem morrer novamente, porém, a floresta é o universo e a eternidade é o infinito...