Vodu
Vodu
O vodu, originalmente africano, surgiu a mais de 6000 anos, provavelmente no Reino de Fon (atual Benin), considerado seu berço. Hoje, está presente em vários países como Toga, Gana e Benin, e neste ultimo acredita-se que 60% da população siga a religião. Já o vodu haitiano aparece no Haiti, na República Dominicana e em Cuba. Nos EUA e no Brasil foi trazido pelos escravos.
É composto de uma rica tradição, de matriz africana e de visão completamente diferente daquela levada pelos colonizadores europeus. Para sobreviver a esse choque cultural, no Brasil, passou por um processo de sincretismo com o catolicismo, originando traduções religiosas de acordo com a região, assim temos o Candomblé Jeje na Bahia, o Tambor de Mina no Maranhão e Xangô em Pernambuco.
Esse sincretismo associou os santos católicos aos deuses e entidades do vodu, assimilou símbolos como o da cruz, tornou parte dos seus rituais os cânticos, hinos e orações católicos, além de aderir aos feriados religiosos, onde são comemorados os principais deuses do vodu.
Vodu vem de Dahomey vodun que quer dizer espírito ancestral, e essa é a ideia básica dessa religião, o culto aos antepassados. Passado por tradição oral, não tem textos sagrados, nem regras claras para rituais ou normas definidas.
Acredita-se que haja um deus principal, o Bom Deus, o Bondje ou Bondie, que é um deus primário e imensamente poderoso que criou o mundo superior e inferior na origem do tempo e depois se retirou para o sétimo céu e de lá observa sua criação sem grande interesse, de forma distante. Para entrar em contato com a espiritualidade, o fiel entra então em contato com os Loas, que são deuses, espíritos, entidades, mistérios, santos, anjos ou antepassados, que fazem o elo entre Deus e homem.
Os Loas podem ser divididos pelo nome, pelo elemento da natureza que lhe serve de domínio ( ar, água, fogo e terra), pelo culto que lhe é dedicado ou ainda pela origem ( africana ou haitiana).Existem Loas próprios de comunidades e famílias. Há toda uma hierarquia dos Loas: grandes, pequenos e espíritos menores.
O vodu entende que os seres e as coisas existem em duas categorias: reinos (animal, vegetal e mineral) e espaço e mares, onde um é reflexo do outro. Tudo possui uma alma: terra, planta, mineral, homem e que esses podem ser transformados uns nos outros. Acredita que a energia do principio vital do corpo e da alma são diferentes e que as pessoas devem ser desprendidas dos bens materiais.
Para o vodu, todos possuem espíritos e cada pessoa tem um relacionamento especial com um espírito em particular, chamado “possuidor da cabeça” e servir ao espírito é uma forma de conseguir a harmonia com a própria natureza e com o mundo.
A ética principal é a honra aos antepassados, respeito aos Loas e a família. Não existe a noção rígida do bem e do mal, sendo que o que é certo para uma cabeça pode não ser para outra, dessa forma existem sim formas de maldições e feitiçarias, mas esse é um fenômeno menor. O que acontece via de regra, são líderes comunitários que orientam e prestam cuidados médicos através da medicina tradicional.
Nos rituais há a presença marcante de música bem ritmada e danças, muitas vezes realizados em ambientes naturais. Usa-se muitas indumentárias, objetos e decorações. O culto começa com preces de cânticos católicos e invocações de espíritos da casa. Em determinado momento ocorre o transe, pela própria ação do batuque e então as possessões começam, onde os Loas desalojam temporariamente a alma das pessoas que os hospedam. Os espíritos são saudados e dão consultas, conselhos e curas, até as últimas canções. Os rituais podem envolver sacrifícios de animais como cabras e galinhas e os seguidores em transe podem se ferir como sinal de fé e poder de um Loa.
É uma religião muito estigmatizada, associada a zumbis e a bonecos de vodu graças aos filmes de horror de Hollywood, mas a magia negra é realizada por feiticeiros e desestimulada pelos líderes espirituais, os sacerdotes e sacerdotisas, sendo para eles apenas uma disciplina dentro do preparo do sacerdócio.
Dentro da religião, existe o “bosal” ou não iniciado, o iniciado e o clero que conduz os cultos. Não há discriminação de gays e lésbicas, muito pelo contrário, existem templos no Haiti onde o clero é inteiramente deles. Para ser um líder espiritual existem centros religiosos que os preparam e são equivalentes aos conventos e mosteiros.
Por tudo que foi dito, a prática vodu, apesar da má reputação causada pela imagem midiática, trata-se de uma verdadeira e rica religião e não de uma prática de magia negra somente.
Natália Verdial